29 de março de 2018

[Resenha] Caderno de um Ausente

CADERNO DE UM AUSENTE
Autor: João Anzanello Carrascoza
Editora: Cosac Naify
Ano: 2014
Páginas: 128

SinopseNeste segundo romance, a estrutura formal continua a ser a principal pesquisa literária do autor. Como o título traz, o narrador desta história, um homem de cinquenta e tantos anos, escreve em um caderno anotações de vida para sua filha recém-nascida, Beatriz. Temeroso de que não acompanhará a maturidade da filha, uma vez que a diferença de idade é muito grande, o homem se põe a narrar a história da família entremeando por impressões filosóficas e poéticas sobre a trajetória de uma vida. A intenção do pai, porém, não é mostrar uma verdade, mas sim a delicadeza - "e eu só sei, Bia, que, em breve, não estaremos mais aqui, e, enquanto estivermos, eu quero, humildemente, te ensinar umas artes que aprendi, colher a miudeza de cada instante, como se colhe o arroz nos campos, cozinhá-la em fogo brando, e, depois, fazer com ela um banquete".Mas mesmo essas palavras, que compõem pequenos trechos escritos ao longo do primeiro ano de vida da criança, não são suficientes para satisfazer o pai - "eu ia te contar o segredo do universo como quem sussurra uma canção de ninar, mas eu não posso, filha, eu só posso te garantir, agora que chegastes, a certeza da despedida". 

No texto deste "caderno", o leitor pode acompanhar também a inquietação do pai, ao longo de um ano, pela saúde da mãe de Bia, que vive doente e requer cuidados tanto quanto a criança. O leitor irá reparar que o texto diagramado apresenta espaços em branco ao estilo de Dos Passos - além de expressarem os vazios que a ausência já ocupa, são hesitações deste pai ao tentar escrever a educação sentimental para a filha.




Autor: João Anzanello Carrascoza
Editora: Cosac Naify
Ano: 2014
Páginas: 128



O livro é o relato de um pai, que se diz "em idade avançada" para sua filha, Beatriz, que acaba de nascer e teme não conseguir acompanhar seu crescimento, tendo em vista tal diferença de idade.



"(...) vais descobrir por ti mesma que este é um mundo de expiação, embora haja ocasionalmente umas alegrias, não há como negar - as verdadeiras vêm travestidas, é preciso abrir os olhos dos teus olhos pra percebê-las."


De maneira profunda e emocionante, o personagem revela seus medos, suas inseguranças, suas alegrias e lembranças, além de relatar muitos ensinamentos que a filha deve levar para sempre em sua vida.

Achei sensacional um ponto do livro em que o pai apresenta à Bia seus antepassados, através de fotos e explica as características de cada uma daquelas pessoas e o significado delas em sua vida.



"(...) o mistério de cada um só a ele pertence, há regiões nossas às quais nem nós mesmos alcançamos."


Narrado em primeira pessoa, o autor consegue expressar com muita exatidão e realidade os sentimentos desse pai desesperado por anotar, em um caderno para a filha, tudo o que teme não ter tempo de falar mais tarde. Eu ainda não tenho filhos, mas imagino que esse é um medo que passa pela cabeça de todos os pais.



"(...) os filhos não aprendem a amar a mãe, Bia, os filhos amam a mãe desde o início, mas o pai, o pai os filhos têm que aprender a amar, porque sempre estiveram fora dele (...)"


O livro segue uma narrativa quase sem pontos finais e as frases são separadas apenas por vírgulas, de modo a ficar clara a urgência desse pai a cada palavra.

A linguagem é extremamente poética e detalhada, porém muito real, assim, não é cansativa, nem chata, pelo contrário, a vontade é de mergulhar na leitura a cada página.

O livro, que tem as páginas de cor bege rosado, se divide em capítulos não muito longos e algumas páginas e pedaços de páginas são preenchidos por linhas brancas, como se algo tivesse sido escrito e, posteriormente, apagado (como uma espécie de corretivo). Assim também ocorre entre algumas palavras, como se o narrador quisesse consertar algum erro que cometeu durante a escrita. Na minha opinião, essas pausas tornam a leitura ainda mais realista e especial.



"(...) eu sei que a jornada dói mesmo nas estações floridas, eu seu que quase ninguém melhora nesta jornada, Bia, as garras nunca param de crescer em nossas mãos e em nossos pés, apenas se tornam fracas e inofensivas (...)"


Algo emocionante acontece ao final do livro, que nos dá uma grande lição de vida. Esse é o tipo de leitura recomendado para quem gosta de ler, viajar e refletir sobre temas cotidianos e nossa forma de agir e sentir perante o mundo.

Um livrinho curto, que proporciona densidade e leveza na medida certa. Me emocionou tanto que foi difícil escolher os quotes preferidos para colocar aqui para vocês!







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