3 de janeiro de 2018

[Resenha] Outros Cantos


OUTROS CANTOS
Autora: Maria Valéria Rezende
Editora: Alfaguara
Ano: 2016
Páginas: 146

Livro cedido em parceria com a editora.


Sinopse: Maria cruza o sertão - e a noite - num ônibus que a levará a algum ponto isolado do Nordeste, e relembra sua primeira incursão naquela região agreste, quarenta anos antes, em condições mais precárias e perigosas, seguindo um anúncio num diário oficial que lista municípios onde se precisava de alfabetizadores para o Mobral. Ela foi “logo aceita, sem mais perguntas, porque, de Brasília, pressionavam os chefetes políticos da região, e ninguém mais, capaz de enfileirar uma letra atrás da outra, estava disposto a se exilar em Olho d’Água e ensinar a ler e escrever aos jovens e adultos”. As lembranças do tempo passado em Olho d’Água se cruzam a outras, entre freiras educadoras na Argélia, ou como viajante no México, deparando-se com costumes distantes, e ao mesmo tempo com pessoas de coragem e pureza, que a ajudam a enfrentar as dificuldades do caminho. As mesmas lembranças desfiam a série de impossíveis amores, encontrados em seus anos de juventude, olhares promissores vistos apenas de relance, e dos quais ela guarda lembranças escondidas numa “caixinha dos patuás posta em sossego lá no fundo do baú”. Com sutileza e domínio da narrativa, Maria Valéria Rezende vai compondo um retrato emocionante dessa mulher determinada, que sacrifica a própria vida em troca de algo maior.

Oi! Hoje vou escrever um pouco sobre o belíssimo livro “Outros cantos”, da autora Maria Valéria Rezende e não posso começar sem falar um pouco sobre sua trajetória. Assim como a personagem principal desse livro, Maria Valéria é professora e teve experiência com a educação no meio rural nordestino. Isso é muito forte para um livro em que a personagem principal descobre o sertão, a pobreza e a beleza da vida sertaneja. O mergulho de Maria, a protagonista, nesse meio parece também uma viagem pelas memórias da autora.

Vamos para a história?

Quando jovem, Maria viveu por algum tempo no vilarejo Olho D’Água, com o propósito de alfabetizar jovens e adultos. Após 40 anos decide voltar ao local e, em sua viagem de ônibus, vai recordando sua estadia anterior e as pessoas que conheceu ali, além de outros cantos por onde passou e viveu.





É assim que descobrimos Fátima, mulher sofrida que suporta o fardo de viver com pouca água e comida e com muito esforço físico para garantir o sustento de seus filhos, e que acolheu Maria em sua chegada. 



Encontrei ofício e família naquele canto escondido. Podia ficar, preenchida de estranha euforia, e, subitamente livre de uma espécie de cegueira frente ao desconhecido, comecei a ver cada um, cada coisa, cada movimento na sua unidade e seu sentido. Pelas mãos de Fátima cheguei ali de verdade. 


Diariamente Maria acordava cedo, buscava água para o dia, tomava café com Fátima e seguia para ajudar no tingimento dos fios, utilizados para tecer as redes para o “Dono”. Esse homem era dono das terras, da água e do trabalho.

Nus vieram ao mundo e nele permaneciam, quase nus e inocentes, não por serem incapazes de fazer o mal, mas por serem ignorantes do mal que lhes podia ser feito.

Sua rotina é quebrada quando um vaqueiro aparece no povoado e desperta Maria para uma parte importante de sua vida: o rapaz de olhar penetrante que encontrou em diversos pontos do mundo. Ele sempre deixa sua alma marcada a cada visita, além de uma prenda que a moça guarda em uma caixinha no fundo de seu baú.

(...) puxei lá do fundo a caixinha de madeira finamente entalhada por meu avô para servir-me de porta-joias. Ao abri-la, com o coração assustado batucando na garganta, depois de tanto tempo a carregá-la comigo sem mirar seu conteúdo, dei logo com um vistoso emblema niquelado, arrancado de uma motocicleta Harley-Davidson.

Maria entra em um estado febril, recordando não apenas o homem, mas o motivo de estar ali. Meses passaram e nenhum sinal dos materiais e da escola onde ela daria suas aulas.

A vontade de chorar que eu retinha, por pejo, ganhou novo motivo além da comoção pela beleza de tudo aquilo. Poderia eu manter o que me trouxera para ali, despertar-lhes ainda esperanças terrenas quando o vivido só lhes permitia situá-las no céu e assim já se haviam consolado por séculos? Não ouvira tantas vezes dizer que a vida era plantar na terra para colher no céu?

Embalada pela narrativa da Maria Valéria eu viajei pelo sertão e conheci personagens cuja simplicidade me encantou. O livro tem o tamanho certo e a medida exata de memórias para compor uma belíssima história. Espero que vocês gostem dele tanto quanto eu gostei!

Beijos e até a próxima.



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10 comentários:

  1. Nossa, mas que livro emocionante! As pessoas quando se lembram do Nordeste, só associam às belas praias da capital e festas no meio do ano, mas essa é uma parte que, infelizmente, ainda é mt recorrente nas vidas da população... é um livro para nos fazer refletir.
    Bjks!
    Hanna Carolina

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  2. Oi Betinha, gostei de saber que o livro fala sobre o Sertão, pois é um local pouco comentado. Gostei das suas impressões, dica anotada.
    Bjs, Tell me a Book

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  3. Que dica maravilhosa menina, eu fiquei tão empolgada e interessada em realizar a leitura que preciso comprá-lo, tenho um amigo que ama essa autora e sei que para mim será uma ótima pedida também, linda essa capa.
    Abraços

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  4. Oi, Betinha.
    Já achei a sua resenha emocionante, imagina só o livro!
    Dica anotada!!!
    beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  5. Oi Meninas
    Eu sou super fã da escrita da Maria Valéria e tive o prazer de conhecê-la pessoalmente.
    A escrita dela é muito bonita e forte!
    Gostei bastante deste livro, mas o meu preferido ainda é Quarenta Dias.
    Bjs

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  6. Adorei. Gosto muito de livros com esta temática pois nos apresentam algo com o qual não estamos acostumados e isso abre nossa mente.

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  7. Olá, tudo bem? Gostei muito da sua resenha e da proposta do livro. Essa temática é algo que não estou acostumada a ler, porém me despertou a curiosidade por justamente ser algo fora da caixa. Saber que ele fez você viajar para o sertão, literalmente para dentro das páginas, também me agradou. Nada melhor que isso. Para mim essa é a verdadeira proposta de bons livros. Adorei!

    Beijos,
    Blog Luna literária

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  8. Olá!
    Adoro livros que retrata o nordeste,a realidade nordestina no agreste e no sertão.
    Falta muito disso hoje.
    A história e os personagens parecem muito cativantes e ver uma pessoa que sai de um lugar para ensinar é muito lindo.
    Esoero poder ler ele,realmente me chamou atenção.
    Beijos

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  9. Oi Betinha!!
    Não conhecia o livro, muito legal a história abordar a situação do povo nordestino, tão pouco lembrado!! Vou anotar a dica aqui.

    Beijokas

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  10. Olá!

    Não conhecia, mas a história abordar a situação do povo nordestino - em primeira pessoa, o que é bem mais importante - é algo que sempre considero bem vindo, são histórias sofridas, mas muito bonitas.

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