22 de janeiro de 2018

[Resenha] A glória e seu cortejo de horrores


A GLÓRIA E SEU CORTEJO DE HORRORES
Autora: Fernanda Torres
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2017
Páginas: 216

Livro cedido em parceria com a editora


Sinopse: A glória e seu cortejo de horrores, novo romance de Fernanda Torres, autora de Fim, acompanha as desventuras de Mario Cardoso, um ator de meia idade, dos dias de sucesso como astro de telenovela até a total derrocada quando decide encenar uma versão de Rei Lear – e as coisas não saem exatamente como esperava. Mescla eletrizante de comédia de erros e retrato do artista, o livro atravessa diversas fases da carreira de Mario (e da história recente do Brasil), suas lembranças de juventude no teatro político, a incursão pelo Cinema Novo dos anos 60, a efervescência hippie do Verão do Desbunde, o encontro com o teatro de Tchékhov, a glória como um dos atores mais famosos de uma época em que a televisão dava as cartas no país. Um painel corrosivo de uma geração que viu sua ideia de arte sucumbir ao mercado, à superficialidade do mundo hiperconectado e, sobretudo, à derrocada de suas próprias ilusões.





Olá! Hoje vou escrever um pouco sobre o livro “A glória e seu cortejo de horrores”, da autora Fernanda Torres.

Fernanda iniciou sua carreira pública como atriz e, depois de receber diversos prêmios por seus papéis no cinema, teatro e televisão, publicou “Fim”, seu primeiro livro, em 2013. Foi por meio dele que tive o primeiro contato com sua obra literária, há dois anos. “Fim” não me surpreendeu, mas “A glória e seu cortejo de horrores” é uma obra excelente, cativante e profunda.



Nesse livro, acompanhamos Mário Cardoso de 60 e poucos anos vivendo uma crise em sua carreira, iniciada pelo fiasco de da peça Rei Lear. Mário escolheu essa peça para marcar seu retorno ao teatro depois de anos atuando em novelas. Financiada pela Lei Rouanet, a apresentação era um show de bizarrices conduzido pelo diretor Stein.


A velha crítica do principal jornal carioca consumou a tragédia. Estudiosa de Shakespeare, a dama de ferro ganhava a vida assistindo aos Tem bububu no bobobó dos palcos brasileiros. Capaz de perdoar comédias rasas, era acometida de uma agressividade cruel quando escrevia sobre aqueles que, como eu, se dispunham a enfrentar o cânone. Ela abria com meu epitáfio, e terminava a resenha culpando as leis de incentivo à cultura, por permitirem que uma infelicidade daquela chegasse às vias de fato.

Quando decide encerrar as apresentações, o ator tem que pagar as contas, cobrir o prejuízo da peça, enfrentar o ódio de alguns membros do elenco e lidar com seu contador, desaparecido desde que as prestações de contas de Rei Lear não foram aprovadas pelo Ministério da Cultura. A cereja do bolo é o conhecimento dos recentes problemas de saúde de sua mãe.


Na altura do Jardim Botânico, minha mãe se aprumou no assento, olhou para a rua apreensiva e virou-se para mim. Perguntou quem pegaria o filho na escola. Que filho?, respondi. Como, que filho? ela disse, o nosso. Um frio gelou-me o coração, uma sensação de abandono ameaçadora. (...) Mãe, argumentei, o seu filho sou eu.




A partir de então, são apresentados fatos do passado que mostram Mário desde os primeiros trabalhos no teatro, com viés político, os primeiros elogios ao encenar Tchékhov, a parceria com a atriz Raquel, seu projeto de interpretar Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas e, finalmente, a transição para as novelas.


Quando comecei no teatro, éramos todos de esquerda, adoradores de Brecht, Górki e Arrabal. Dinheiro era sinônimo de desvio de caráter. Mas o mundo mudou e meus amigos duros se transformaram em párias de trattoria, vestidos de bermuda e chinelo, sem plano de saúde, carro ou perspectivas futuras. Enfrentei a frieza deles, mas tive uma colheita farta.


Mário questiona suas escolhas e caminhos percorridos como ator, as consequências de sua ida para a televisão e os desvios que o conduziram para o momento atual.


Enquanto esperava minha mãe sair do banheiro, duvidei se, em algum momento, eu havia alcançado, de fato, a essência da minha profissão.

Terminei o livro com a impressão de que deveria conhecer melhor os escritos de Shaskepeare, para ter uma experiência mais profunda com esse livro, por isso quero a opinião de leitores que conheçam Rei Lear e Macbeth. Há relação entre as trajetórias dos personagens principais dessas obras?

Deixo vocês com esse grande livro como última recomendação de leitura e me despeço do blog, de seus autores e leitores, agradecendo pela recepção, carinho e oportunidade, além de todas as experiências que essa parceria proporcionou. Espero que nos encontremos por aí, nesse maravilhoso mundo da literatura.

Beijos :)




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