#PRACEGOVER: Montagem com a foto da autora e a inscrição: "Entrevista com a autora VAL ARMANELLI" |
Olá, leitores do Pacote Literário! Hoje é dia de entrevista por aqui!
Nossa entrevistada da vez é Val Armanelli, autora de As flores falam, cuja resenha já foi postada aqui no Pacote.
Vamos às perguntas?
- Quem é Val Armanelli?
Sou Ilustradora, poeta, artista visual, performer, professora e quadrinista independente. Ufa!
Gosto de trabalhar com aspectos do feminino, com morbidez e delicadeza, contextos pesado e um traço doce, meu trabalho é marcado por fortes contrastes, seja nas cores ou na execução, no texto em contraponto com a imagem.
Sou autora dos quadrinhos Em FuGa! (2015) e As Flores Falam (2018), e dos livros ilustrados PSeudo poemas I - Amor (2016) e II- Desconforto (2017) e dos zines Solo (2019) e Agachar (2019).
Gosto muito de misturar coisas que a princípio podem parecer não ter a ver, como poesia e quadrinho. Gosto de criar esses espaços estranhos e cruzar públicos que muitas vezes não se encontram.
- Quando e como começou a escrever?
Eu sempre gostei de histórias. De ouvir, de ler, saber, de criar, contar. Lembro que comecei a gostar de poesia com Cora Coralina. Mas tinha também, como boa criança, uma queda pro fantástico. Aprendi a ler com um livro chamado “o segredo das fadas”, e isso gerou uma fixação. Eu realmente amava fadas. De ler e ouvir histórias e poemas pra começar a escrever os meus próprios foi um pulo.
Mas o engraçado é que considerar minha escrita como parte da minha produção artística veio muito depois. Eu não encarava meu texto com a mesma seriedade que encarava minha imagem -tanto que sou formada em artes e não em letras, rs- escrevia pra mim, ás vezes para desabafar, às vezes por “esporte”. Não deixava meu texto circular como fazia com a imagem. Principalmente por vergonha. Tenho déficit de atenção e erro muito coisas “bobas”; ortografia, digitação, até concordância, e tenho uma dificuldade enorme em revisar meu próprio texto.
Aqui entra um detalhe, uma pessoa muito importante nessa história. Eu tive um amigo e professor, o Lederson Nascimento. Pra ele mostrei muitos dos meus textos e poemas. Ele me ajudou bastante nesse ínicio. Corrigindo e editando meus textos. Um ano depois de termos iniciado essa dinâmica e quando estávamos combinando vários projetos colaborativos, ele morreu.
Bom, não preciso dizer que perder um grande amigo me deixou arrasada. Fiquei alguns meses sem conseguir escrever nada. sem conseguir reler meus textos e menos ainda os dele. Alguns meses se passaram e a faculdade me forçou a voltar pros projetos que havia começado. Com isso decidi criar coragem e começar deixar meu texto aparecer.
- Tem algum autor que considere uma referência para o seu trabalho como escritora?
Nossa, muitos, e são referências que se mesclam da literatura as artes visuais, muitos, pessoas que “vivem em cima do muro” como eu, que não decidem se escrevem ou produzem imagens. Acho que hoje meu texto, assim como minha imagem é um Frankstein de tudo que já li e vi, de tudo que vivi, de pessoas que conheci.
Uma orelhinha de Edgar Allan Poe, um olhinho do Lederson Nascimento, um dedinho da Norma de Souza Lopes, Uma mechinha de cabelo do Neil Gaiman, um dentinho de Ana Martins Marques. Uma balançadinha de pé do Craig Thompson e o jeitinho de espirrar do Augusto dos anjos.
Tem também um jeitinho de prender o cabelo da Julia Panadés e uma piscadela do Dave McKean -que é um ilustrador e desenhista na verdade, mas bom, conta histórias como ninguém- e ainda nessa de ilustradores que contam histórias como ninguém, Tem uma olhadinha da Ângela Lago e um abraço apertado da Marilda Castanha..
- Fale um pouco sobre “As flores falam”.
Sobre o “As Flores Falam”, bom, que livro difícil. eu tenho o péssimo hábito de ser tragada para dentro dos livros enquanto os faço. E esse me doeu do início ao fim.
Ele surge de ouvir relatos, de não saber lidar com a dor de pessoas próximas, pessoas que eu amo e me importo e a quem não posso proteger, de quem não posso mudar o passado, pegar no colo, cuidar. Tudo que eu podia, ou achava que podia fazer por essas mulheres era ouvir. Bom, logo eu descobri que enquanto artista tinha um jeito de honrar essas histórias.
E foi assim, meio dolorido, mas com muito carinho, com muito afeto, que surgiu o livro. Com ajuda e toques da Norma de Souza Lopes e com uma coragem que nem eu sei de onde tirei, pra botar essas dores no mundo, pra me arriscar num projeto de financiamento coletivo, e contar essas histórias tão doídas mas também tão preciosas para mim.
- Tem algum personagem favorito ou com quem mais se identifique nos seus livros?
Cada uma dessas mulheres me toca e é importante pra mim de uma forma, não consigo escolher entre elas. Acho que o máximo que consigo é dizer que dos personagens o que mais me orgulho é o desenho da Orquídea. Ali, naquela história, eu descobri coisas sobre meu desenho que vão me acompanhar numa nova fase do meu trabalho.
- Quanto às características dos personagens, você se inspirou em alguém que conhece?
Bom, a única mulher fictícia no livro é a Crisântemo. Dela, li o poema e imaginei uma história e uma saída pra ela. Amo o poema da Norma mas não gosto do lugar que essa mulher fica no fim do poema e tomei a liberdade de inventar meu próprio final. Achei que a Norma ficaria brava mas para minha sorte ela adorou!
As outras três são mulheres que eu conheço. A primeira história que escrevi foi a da Tulipa. Um dia, tomando café com essa viúva, ela começou a comentar sobre uma notícia de legalização de portes de armas. Ela parou. Ficou um tempo encarando a xícara de café, e quando voltou a falar, parecia que estava revivendo tudo aquilo. me contou essa história de um fôlego só.
Eu segurei a mão dela, com força para que não percebesse que estava tremendo. terminamos o café, conversamos amenamente. Assim que saí de perto dela chorei. Chorei e depois transcrevi o relato, de memória, o melhor que pude lembrar. tentando ao máximo replicar cada palavra que ela me contou. Assim com as outras duas, que me contaram suas histórias por áudio, que eu ouvi em loop enquanto desenhava.
- Qual o seu próximo projeto?
Meu próximo projeto se chama “Comida de Fada” e vai ser um financiamento coletivo também. Surgiu de um “conto macabro” que escrevi juntando alguns dos meus recentes estudos em contos infantis, memórias da minha própria infância e a peculiar obsessão com fadas que a jovem Valzinha tinha.
Disso saiu a história de uma menina que eu carinhosamente apelidei de ovelhinha. É uma garotinha solitária que mora com o pai numa área periférica. O pai trabalha o dia inteiro e ela, fica na companhia das fadas. As dos livros, claro, por que fadas não existem de verdade.
Ou será que existem? E se existem, será que são realmente doces e fofas, madrinhas, e bonitinhas? Serão elas gentis como a sininho ou algo mais sombrio? Que mistura, né?
Queria um projeto assim para trazer pro quadrinho a técnica de colagem que tenho trabalhado na ilustração. Um híbrido entre ilustração e quadrinho. A concepção e processo desse projeto tem sido um enorme desafio mas também muito gratificante. Mesmo pra mim que já tenho o hábito de tentar dar passos maiores que as pernas tenho achado que é um trabalho ousado. Com menos texto, muitas coisas sendo resolvidas somente na imagem e muitas, muitas cores e camadas.
- Deixe um recadinho aos leitores do Pacote Literário.
São tempos difíceis, se cuidem, cuidem dos seus, apoiem os pequenos, quem não tem grandes editoras, não têm grande circulação. Apoiem os escritores e artistas independentes. Fiquem bem. Fiquem em casa.
#PRACEGOVER: Dois pacotes de cor rosa e ramos de flores |
Espero que tenham gostado da entrevista. Caso tenham mais perguntas para a autora, ela ficará feliz com sua visita através do seu Instagram.
Val, o Pacote Literário agradece pela sua atenção e lhe deseja todo sucesso!
#PRACEGOVER: Caricatura de Karla e inscrição "Matéria de Karla Samira" |
Eu adoro estas entrevistas!
ResponderExcluirElas nos ajudam a conhecer melhor o trabalho do autor e muitas vezes a descobrir talentos.
Não conhecia a Val e já fiquei curiosa para acompanhar sua escrita
Muito bom!
Beijos
Clauo