1 de novembro de 2019

[Resenha] Não sou exposição

NÃO SOU EXPOSIÇÃO
Autor (a): Paola Altheia
Editora: Quintal Edições
Ano: 2019
Páginas: 168
Classificação: 5/5 (favoritado)

Sinopse: Não é segredo para ninguém que o corpo feminino que não é moldado pela disciplina sofre reprovação social imensa. A questão não é beleza e elegância: é obediência. Um corpo flagrantemente feminino incomoda, incomoda muito. Porque é um protesto silencioso da Mãe que nunca se deixou sufocar. O corpo da mulher tem muita gordura e a gordura desespera, exaspera. É uma substância sem definição clara que não conhece limites. A gordura parece ter vontade própria, sempre faz tudo do jeito dela. Ela treme, chacoalha, balança e ri do nosso constante desejo de controlar tudo. O corpo sarado é ilusão de ordem. A flacidez é anarquia.
Mas as mulheres ocidentais passam fome voluntariamente e estão familiarizadas com a sensação física de estar definhando, vivendo, dia após dia, com menos do que o mínimo. Fazer regime significa comer menos. Comer menos significa perder peso. Perder peso significa diminuir as dimensões corpóreas. Diminuir as dimensões corpóreas é sumir. E sumir é o que nosso modelo de sociedade fez (e faz!) com tudo que não se relaciona com o masculino.



Olá leitores do Pacote Literário!


Hoje trago para vocês a resenha do livro "Não sou exposição", da Paola Altheia.

Antes de começar a falar sobre o livro, acho importante mencionar que Paola é nutricionista e tem um modo de pensar e tratar os pacientes muito diferente dos demais profissionais desta área.

Paola é autora do blog e da página do Facebook "Não sou exposição" e defende um estudo mais humano do paciente ao invés de prescrições de dietas "de gaveta", que não focam no tipo de vida que a pessoa leva, em suas peculiaridades e nos demais cuidados que se deve ter para que aquela prescrição não seja apenas mais um problema na vida do paciente.



O livro é um apanhado muito bem feito de temas que atingem diretamente a todas as pessoas: autoimagem, dieta, autoestima, alimentação, exercício físico, cobrança maior de uma "imagem padrão" para as mulheres, dentre outros.

"Toda a superfície do corpo pode ser 'melhorada' de alguma maneira. A beleza deixou de ser pensada e vista como um dom natural e virou bem de consumo. Algo que se conquista com dinheiro e esforço."

A mensagem que a autora quer passar é a de que, ao contrário do que muitos profissionais da saúde repetem diariamente, a gordura corporal, por si só, não é sinônimo de doença!

Para que se possa afirmar que um corpo gordo é doente, há que se analisar diversos outros fatores da vida do paciente, tais como: estado emocional, prática de atividade física, nível de estresse, falta de sono, problemas hormonais, etc.

No mesmo sentido, o conceito de "saúde" que temos na sociedade atual é de que basta apenas ter um corpo "sarado" a qualquer custo! Inclusive a custo da própria vida, pois muitas pessoas que se enxergam fora do padrão imposto pela sociedade atual simplesmente não conseguem conviver com esse fato. E assim, se sabotam, vivem em conflitos emocionais com a alimentação e isso pode levar, em casos mais graves, à morte!



Paola ainda explica de maneira muito detalhada os transtornos alimentares (e a banalização absurda de seus termos). Anorexia e compulsão alimentar, para citar os mais usados, são termos que definem doenças graves, mas se tornaram definições errôneas para uma população que os considera simplesmente na circunstância de "viver de dieta" ou "sair da dieta".

Achei interessante a forma como Paola analisa os alimentos, de maneira a não tornar nenhuma comida "um vilão por si só". Não existe "comida lixo" ou alimento proibido! Há que se considerar sempre o contexto composto por quantidade e frequência que se come cada um dos alimentos disponíveis.

A autora nos fala, ainda, das mudanças de padrão de beleza do corpo (sobretudo o feminino) no decorrer da história e que o que se tem hoje como "belo" não é algo composto pelo desenvolvimento do conceito de beleza, mas sim por regras de mercado.

Explico melhor: o corpo que hoje é definido como "bonito" e desejado pela maioria das pessoas exige, além de dedicação excessiva, uma genética favorável, restrições alimentares exageradas e uma série de outras coisas às quais a pessoa "comum" (que trabalha, estuda, namora, tem contas a pagar, "vive") nunca consegue alcançar.

"O pensamento 'gordo ruim, magro bom' promove negligência entre os magros e estigma entre os gordos. Ou seja, não ajuda ninguém. "

Além do peso, Paola aborda de maneira muito clara todas as outras exigências feitas (principalmente com relação ao corpo da mulher) pela sociedade. Depilação a laser, hidratação de cotovelos e joelhos, cirurgia íntima e clareamento anal são alguns dos exemplos citados no livro. Do que é considerado "básico" a medidas extremas, quantas variações temos?

E tudo isso nos é exigido unicamente para gerar lucro para um "mercado da beleza" que nunca se preocupa com a saúde e sempre exalta a estética.

"Pensar no nosso potencial de atratividade em minúcias, e não de modo amplo, é uma verdadeira prisão que causa angústia e dor a muitas mulheres."

Esses são alguns pontos polêmicos e importantes para refletirmos a partir do conteúdo trazido por Paola nesse livro tão profundo e maravilhoso!


Penso que discussões como essas são absurdamente necessárias para que possamos mudar nossos pensamentos e hábitos com relação a beleza, emagrecimento e saúde (física e mental).

A escrita da autora é uma delícia, parece uma conversa de consultório com alguém que realmente se preocupa com seu bem estar (ao contrário de alguns profissionais por aí...).

Indico e recomendo a leitura sem restrições!

Esse livro faz parte do projeto #leiamulheres, já explicado aqui no blog!

E você, já leu este livro ou outros que abordem tais questões? O que achou? Conte-nos nos comentários!






7 comentários:

  1. Oi querida
    Que post sensacional!
    AMEI a dica, já anotada.
    Gosto muito desta temática e o fato da Paola ser nutri, ajuda muito.
    Fiquei curiosa!
    Adorei as fotos e suas percepções
    Beijos
    Claudia

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  2. Olá, tudo bem? Não conhecia esse livro ainda, mas não tenho dúvidas de que é uma leitura incrível, que trabalha temas importantíssimos. Adorei tua resenha e dica, já quero ler!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  3. Olá, tudo bem? Não conhecia a obra mas fiquei encantada com a sua resenha e com a premissa da mesma! Com certeza irei adicionar a lista e pretendo ler em breve.
    Um beijo.

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  4. Me interessei muito pelo livro por conta dos assuntos sérios tratados nele. Eu vejo notícias de pessoas que morreram por terem se submetido a um procedimento para emagrecer ou para colocar silicone nas nádegas ou nos seios, e sempre fico muito triste, imaginando a pressão que essas mulheres colocavam sobre si mesmas, no intuito de seguir um padrão inalcançável ditado pela sociedade. Exige-se que a mulher seja "perfeita", quando a perfeição é utopia e não leva a felicidade alguma para nenhuma de nós.

    Não concordo com tudo o que ela trata no livro, pois, por exemplo, eu acredito que existem sim "alimento lixo", ou seja, alimentos que fazem mal para a saúde. Todavia, eu própria consumo esses alimentos que sei que são prejudiciais. :(

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  5. Que premissa diferente! Eu acredito que nós precisamos sempre estar de bem com nosso corpo. Se você está bem com o que você vê, então você está ótima. Não precisamos ter um padrão de beleza ou qualquer coisa que a sociedade impõe. Em questão de "alimentos lixos", eu acredito que tenha, sim. Há muitos alimentos que não são saudáveis e que não fazem bem para a saúde, isso sabemos, mas não devemos deixar de comer algo por conta disso. Se você tem vontade, tem que comer mesmo!

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  6. Oi, que maravilha saber da existência desse livro! Como você comentou, buscando alcançar um padrão imposto pela mídia e pela sociedade de consumo, pessoas podem até morrer. É super importante falar sobre o assunto.

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  7. Adorei a proposta do livro e por ela ser profissional da área deve ter uma argumentação muito bem embasada. Já quero ler.
    Beijos

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